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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Infraestrutura e logística


Infraestrutura e logística

(...) O Brasil ficou vinte e cinco a trinta anos sem fazer, e o ruim de não fazer não é apenas o que não foi feito, é também que se desaprende como faz.(...)

Márcio José Lauria 


Turista acidental.
Não à vontade como um peixe fora d'água, tomo conhecimento dos importantes assuntos tratados no caderno especial DESAFIOS BRASILEIROS, publicado a 12 de novembro pelos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.
Repórteres de categoria, estudiosos especializados e executivos experimentados conseguiram em dezesseis páginas traçar diagnóstico minucioso do que o Brasil necessita para continuar crescendo e almejando situar-se entre as economias mais significativas do mundo.
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Fico sabendo que só depois de ter vencido a batalha pela estabilização monetária é que o Brasil pode pensar com seriedade e urgência  na superação dos muitos gargalos que atrapalham o seu desenvolvimento global. E que só há um caminho para isso: investir, investir, investir. Ora, num país em que se espera tudo do governo e, sabidamente, não tendo o governo os meios necessários para investimentos pesados e imediatos,  a saída para o crescimento  está na constituição de parcerias entre o poder público e os recursos de particulares.
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Contrariando a filosofia imperante entre partidos de esquerda, sempre favoráveis à forte presença governamental na economia, a presidente Dilma Rousseff  vem, há algum tempo, aceitando como inevitáveis essas parcerias, mediante a transferência para a iniciativa privada de grandes aeroportos, como Guarulhos, Viracopos e Brasília, além de preparar um novo modelo para a concessão dos aeroportos de Galeão (Rio de Janeiro) e Confins (Belo Horizonte). Também já está lançado o Programa em Investimentos em Logística para Rodovias e Ferrovias, com previsão  de  melhorias em sete mil e quinhentos quilômetros de rodovias e dez mil quilômetros de ferrovias, com o ingresso de mais de cem bilhões de reais da iniciativa privada, num prazo de vinte e cinco anos.
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Já se vê que, na metáfora inventada por Rui Barbosa, não se trata de plantar couves (verduras que nascem e crescem em poucos meses), mas em cuidar de carvalhos (majestosas árvores  de lento crescimento, porém de vida longuíssima e de alta valia). Os governantes que derem início a programas dessa envergadura com certeza já não estarão no poder quando os bons frutos dessas iniciativas começarem a produzir. Para o imediatismo tão presente na vida nacional, isso é mais que desanimador e pouco estimulante. Sem essa visão de futuro, não há como crescer. Está lá explicitado que para chegar a míseros quatro por cento ao ano (contra dez ou mais da China e da índia), o Brasil precisa duplicar  os atuais investimentos, em torno de dois por cento do produto interno bruto, a soma de tudo quanto se produz no país (PIB). Se investir menos de três por cento, não cobre sequer a depreciação do capital físico per capita, seja lá o que isso queira dizer.
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Um dos entrevistados diz muito cruamente que, há décadas, o Brasil está sem visão de planejamento e que um dos gargalos  na infraestrutura é a falta de projetos - ligada à carência de profissionais e empresas da área, quando comparados com a demanda. "O Brasil ficou vinte e cinco a trinta anos sem fazer, e o ruim de não fazer não é apenas o que não foi feito, é também  que se desaprende como faz." Forte, não? Mexe com Lula, Fernando Henrique, Itamar, Collor e Sarney.
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Até a banda larga e o celular tiram o sono de empresas do ramo. Hoje há mais de um telefone celular por habitante. São cento e noventa e cinco milhões de  pessoas que detêm duzentos e dez milhões de aparelhos de telefonia móvel. Empresas e consumidores enfrentam, no seu dia a dia,  baixa qualidade de serviço, mau atendimento, demora e preços altos quando precisam de serviços de telecomunicação.
Como será daqui a dois anos, se o investimento continuar não acompanhando a expansão acelerada da base dos clientes?
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Até fui ao dicionário para captar o exato sentido de logística, termo  da arte da guerra, que trata do planejamento e realização de quase tudo, desde transporte até recrutamento, distribuição e correta utilização de pessoas e coisas. Um dos entrevistados mostra como por falta da tal logística no Brasil até vinte por cento do que se colhe no campo ou se produz na cidade se perde, por deficiência de armazenamento, transporte e correto uso de meios disponíveis. E dá um exemplo: o pneu de um caminhão que aqui no Brasil precisa ser trocado a cada cem mil quilômetros, chega a durar quinhentos mil quilômetros nos Estados Unidos, por causa da conservação das estradas. A maioria das rodovias federais do país tem precária conservação. As paulistas, muito boas, têm pedágios considerados altíssimos.
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A Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 enchem de preocupação os que cuidam de aeroportos,  estádios, estradas. Nos últimos cinco anos o movimento de passageiros nos aeroportos brasileiros saltou sessenta e três por cento. Quanto mais aumentará com esses eventos de magnitude mundial? Quantos estádios estarão realmente concluídos dentro dos prazos da FIFA? Quantas rodovias essenciais continuarão  na precariedade de seu estado atual?
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Outro setor que deixa de cabelos em pé os promotores de eventos de nível internacional é o do fornecimento de energia elétrica. Hoje, quase setenta milhões de brasileiros sofrem com apagões, cada vez mais frequentes. Sabe-se que com o baixo nível dos reservatórios, muitas usinas termoelétricas tiveram de ser reativadas, apesar de a energia por elas gerada custar  mais que o dobro.  Como será com a demanda extra causada pela esperada movimentação de pessoas em razão da Copa e da Olimpíada?
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Se o tom geral do caderno especial DESAFIOS BRASILEIROS não chega a ser francamente pessimista, é ao menos de alerta: o tão festejado jeitinho brasileiro não funcionará a contento na realização dessas duas festas de ressonância universal. O Brasil precisa melhorar em tudo para não vir a fazer triste papel ante os olhos do mundo.
FONTE
http://jornaldemocrata.com.br

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